Grupo A com seus 3 hominhos
Grupo A sem seus tres hominhos....
Sentem-se que la vem história
Depois de um longo e nada tenebroso inverno, resolvi dar as caras e ressucitar esse espaco aqui. Demoro. Mas demoro por motivos razoáveis, que podem nao justificar a ausencia prolongada, mas ajudam a entender essa sumida virtual de Angélica Cristina e seus relatos eictvianos.
Buena, sem mais delongas.
Estive fora todo esse tempo por causa dos famosos ¬3 minutos¬, a parte mais importante desse primeiro ano aqui na escola, tanto em termos pedagógicos como de ¬situar-se¬ nesse mundo a parte. Como diz o Dani, outro brazuca que veio para cá comigo (
http://www.dtavares.blogspot.com/) estamos falando da cereja do bolo, daquele pedaco que deixamos para o final, e que no caso de nosso calendário chega pouco antes de terminarem as aulas (o que diga-se de passagem, Ž um problema. Mas depois falamos disso).
A coisa funciona da seguinte maneira: dividem-se os 40 alunos em 5 grupos de 8, e assim que cada um de n—s passamos por direcao e roteiro ( ou seja, escrevemos e dirigimos nossa pr—pria hist—ria) alŽm de fazer som direto-mixagem, fotografia, microfone, script-edicao, assistencia de cámara, assistencia de direcao e finalmente producao para cada um dos demais curtas.
Que pasa?
As exigencias do exerc’cio sao que as hist—rias devem ter no máximo 3 minutos, serem contadas em no máximo 20 planos, rodadas em no m‡ximo 2 dias e utilizar exclusivamente luz natural. Filmamos tudo em pelicula 16mm, o que Ž um prazer e um privilŽgio. Trabalhar com a bichinha morrendo de medo e cuidado e depois ver como fica lindo Ž uma das sensacoes mais bacanas que experiementei por aqu’.
No meu caso, o bicho comecou a pegar já na hora de criar o roteiro. Me sentia uma inutil criadora de ¬hist—rias de ficcao¬, cada vez que passava pelas assessorias entrava em crise, enfim.
No final das contas a coisa comecou a andar, fui entendendo o processo criativo e saiu algo que nao me enche de orgulho mas que me satisfaz pela simplicidade honestaÉ rararara.
Entrei numas de que como era ¬minha primeira vez¬ nao ia inventar muita moda para comecar a lidar com a linguagem da ficcao de cinema devagarim, do zero, do beab‡ messssÉ Hoje questiono um pouco essa minha decisao, mas no momento em que ela foi tomada penso que funcionou para algo.
E entonces partimos para a chat’ssima pre-producao cheia de papŽis inuteis, mas tambŽm com partes divertidas como busca de atores, ensaios, criacao de cenografia, vestu‡rio e tudo relacionado a deixar um set pronto para filmar. Dá um trabalho da porra, mas tambŽm ajuda a ver a cara real daquilo que vc criou no papelÉ ƒ do caralho.
Terminada essa etapa, comecamos uma maratona de 23 dias seguidos de filmagens. Como diz’amos por aqu’, um pouco como tiracao mas com um bom fundo de verdade, isso Ž praticamente filmar um longa metragem de baixo orcamentoÉ Nao Ž pouca coisa nao!
Como disse, cada diretor tinha dois dias para filmar seu roteiro e entre uma rodagem e outra havia um dia de intevalo, que aproveit‡vamos para terminar a pre-producao do pr—ximo. A rotina a partir de entao passou a ser acordar por volta das 6h da matina e capotar l‡ pelas 22h quando o trabalho para o dia seguinte nao precisava de tanta coisa. Se era algo mais pesado entonces o jeito era estender a jornada atŽ a hora necess‡ria. Punk rock total.
Acho que, ainda em termos de rotina, a parte mais chata de todas, desse momento, era subir e descer equipamento da sala de aula que era nossa base de operacoes atŽ a o onibus que nos levava para as locacoes. ƒ coisa que nao acaba mais e no final ja est‡vamos todos blasfemando as bolsas de areias, mesas, garrafas tŽrmicas gigantes pra ‡gua cafŽ e suco de mentira, cadeira, tripŽ de tudo quanto Ž jeito, rebotador, aaaaaaaaaaa! NinguŽm merece esse momento ¬ vai e vem¬ de coisas. Craro que chega uma hora que nego acaba acostumando com a coisa, mas definitivamente essa Ž uma das partes do processo das quais eu nao vou sentir falta nenhuma, rararararara!
Producao
E entonces comecaram as rodagens. E eu comecei como produtora, tambŽm conhecida como a ¬patinha feia¬ do cinema. O bom Ž que depois de passar por isso qualquer um acaba reconhecendo que sem uma boa producao nao existe cinema, j‡ que a profissao tem, entre suas funcoes fundamentais, a de garantir que seja poss’vel filmar Ð ou seja, ENCONTRAR DINHEIRO, rararararara!
No caso dos Tres Minutos, o que a gente fez em termos burcr‡ticos era mais para constar, porque afinal de contas a escola Ž quem banca tudo. E ai o trabaho mesmo acaba sendo pre-producao e producao de set, o que significa cuidar desde os detalhes dos objetos que os personagens vao necessitar, criacao e decoracao das locacoes, blablabla, mas tambŽm garantir o cafŽzinho e o sandu’che da equipe para neguinho nao morrer de fome nem estressar, ‡gua para neguinho hidratar, protetor solar para os momentos de filmagem a cŽu aberto, filtros X Y e Z que o fot—grafo vai necessitar, andaime para as tomadas mais ¬inspiradas¬ de diretores doidos, enfimÉ um trabalho bracal do cacete que te permite olhar e conhecer as necessidades de cada funcao e por isso mesmo me pareceu tao bacana.
Se a hist—ria tem uma vaca que faz muuuuu e come capim em determinados planos, toca produtor a ir atr‡s da vaca e garantir que ela esteja no set a tal hora, em um luar seguro e com alguem para cuidar da bicha, que afinal como vcs podem imaginar, nao est‡ exatamente acostumada a passar um dia inteiro esperando a boa vontade do diretor, muito menos a responder ao que o cara pede. Felizmente nao tive que ir atr‡s de vaca nenhuma, mas presenciei o esforco de um amigo para conseguir uma e foi a coisa mais tragi-c—mica do mundoÉ Gosto desse exemplo como ilustracao do trabalho do produtor, rararararara.
A hist—ria que produzi no geral foi tranquila. A diretora era a Mila, de document‡rio, e a hist—ria se chama ¬Ambar¬. Em uma linha, trata-se de uma mulher que tem modos masculinos e passa por um processo de aceitacao de si mesmaÉ. Imginem que isso cabe em 3 minutos, rarararara.
De locacoes, tive que criar uma cafeteria Ð ou seja escolher um espaco, pensar cores, pintar paredes, conseguir mesas e cadeiras, decorar bonitim, etc - e um quarto muito simples. As demais eram espacos que ja existiam por aqu’. O vestu‡rio tambŽm nao teve nenhum segredo, enfim, e o que acabou me demandando mais foi fotografia que precisava armar um palio Ð nao sei qual Ž o nome disso ai no BrŽsil, mas Ž uma espŽcie de tela gigante que se usa em exteriores para baixar a luz a um nivel que nao estoure a pel’cula. ƒ a coisa mais chata e pesada de transportar e para armar precisa de 15 pessoas de uma vezÉ ararararararararaÉ Ok, mentira. Mas de uns 4 pelo menos precisa. Fora que Ž o unico da escola, entao se tinha mais de um neguinho precisando da bagaca, era ir cordenar com o outro produtor para entrar num acordo de que horas quem ia ter o queÉ
Anfan, Ž meio estressante, Ž correria para l‡ e para c‡, nego nao para um segundo, mas o fato Ž que encontrei algo de maternal na funcao, essa coisa de ter de olhar para todos e cuidar de todos e ai acabei curtindo mais a experiencia.
Direcao
A segunda rodagem teve como diretora a n’vel de pessoa que dirige sua hist—ria enquanto roteirista eu mesma. Sim, euzinha, Joaquina Cristina, dirigindo um curta, vejam bem, meus bens. O nome do meu curta Ž ¬Acontece¬ e fala sobre pequenas frustracoes da vida de um moco. Como meus atores sao brasileiros, filmei o curta em portugues. Bueno, e acreditem ou nao foi tudo super tranquilo. Acho que estressei mais e tive mais trabalho com producao e ai quando chegou a hora de dirigir tudo pareceu tao sussaÉ rarararara. Tb conta o fato de que meus atores estavam super bem atuando como eles mesmos Ð eles sao um casal e atuaram como um casal, rarararara - o que sem dœvida aliviou muito meu trabalho. E acho que o que conta mais ainda Ž que como estou aqu’ para fazer document‡rios, nao tenho que provar nada para ninguŽm com minhas ficcoes. Depois conversando com a Manu, que tb Ž de documental, chegamos a conclusao de que isso nos tira um peso grande das costas, ou seja, o fato de que em teoria nao vamos mais trabalhar com ficcao. Digo isso porque entre os alunos da minha sala, que tem ai um bom contingente de pissoas talentosas, o clima de competicao nao chega a ser insalubre, mas, sim, est‡ presente, e ai a cobranca pessoal de cada um acaba subindo. No caso especifico dos documentaristas somos um peque–o grupo de apenas 5 pissoas e nos respeitamos muito entre n—s, entonces nao tem muito galho nesse sentido.
Nas fotos vcs vao ver a casa que armamos para o meu casal protag—nico. Qualquer semelhanca com as casas de AngŽlica Maria Ž mera coincidenciaÉ rarararaÉ
E nada, foi tao tranquilo que nem sei o que dizer. Filmamos tudo em tempo, nao tivemos nenhum imprevisto, nao choveu, meus atores se sairam muito bem, meus atores ni–os se sairiam muito mal mas sem comprometer a pelicula, lero lero, nada demais. Ao contr‡rio do que eu mesma imaginava, nao virei uma ditadora, ouvia todo mundo com calma, tudo na pax, fluindo super bem.
Microfone
Depois de ser diretora, chegou a vez de Yanelvis, de fotografia, dirigir seu curta ¬X-Distantes¬, uma hist—ria super linda sobre a campanha de alfabetizacao de Cuba p—s-revolucao nos anos 60. Nesse momento, virei microfonista - ou seja, boom. Sabem esses microfones de filmagens que parecem um cachorro peludo cravado numa vara? Entonces, esse Ž o boom. E o microfonista tem que meter o boom na galera, rarararararaÉ Acho que entre todas, essa Ž a funcao mais sussa, o que nao significa que seja tao simples. Na hora de di‡logo, de seguir passos e tal, neguinho tem que se virar com aquela bagaca na mao sem fazer ruido e garantindo que o eixo do microfone esta bem dirigido para captar tudo muto bemÉ De isso depende boa parte da qualidade do som direto de uma pel’cula. Mas para falar a bem da verdade, oh coisa chata de fazer, visse? Puta que o pariu, ninguŽm merece sair de producao e direcao e de repente entrar em micr—fono, rararara.
Para nao morrer de tŽdio, eu passava o tempo cantando no microfone mœsicas do Roberto Carlos pro Pedrinho, um fan‡tico do Rei e a pessoa respons‡vel por monitorar a captura de som dessa rodagem. Ele era quem passava o tempo com a Nagra, que Ž o aparelho de gravar som, e com um fone de ouvido escutava tudo que meu microfone mandava. O mais engracado Ž que esses microfones sao tao potentes que vc pode sussurar mega baixinho, sem que ninguŽm te ouca, e mesmo assim quem t‡ com o fone escuta. Nessas, depois de cansar de cantar, comecava a fazer coment‡rios estupidos sobre as coisas que estavam acontecendo, bobagens e tonterias afins. E assim foi como consegui fazer dessa funcao algo divertido, rararararararaÉ Nao Ž a toa que o povo que trabalha com som em cinema Ž conhecido como a galera sussa, buena onda, relax, etcÉ Reparem nas fotos a atitude dos que passaram por sonido e vcs vao entender do que eu tou falando.
Essa foi a primeira rodagem em que apareceu um problema grande Ð chuva! Como estavamos trabalhando com luz natural, se chovia ou estava tempo nublado o jeito era simplesmente sentar e esperar atŽ que a luz estivesse melhor e fosse possivel filmar. O primeiro dia de rodagem choveu a manha inteira, o que significa 25 % do tempo total que tinhamos para terminar o trabalho. Nessas a diretora ja tava maluca, mordendo dedos e comendo unha com medo de nao conseguir filmar. Mas como Žramos ¬o grupo tranquilo¬ tentamos deix‡-la tranquila de que ir’amos resolver o trabalho de qualquer maneira, todos mantivemos a calma e aos poucos ela tb foi acalmando. Por fim, ja no mesmo dia pela tarde o tempo melhorou e conseguimos adiantar bastante coisa. No dia seguinte tb tivemos sol e acabamos terminando tudo antes do almoco. No total foi como se tivessemos gravado o curta em um dia, e olha que era um trampo de fotografia fodido, todo um neg—cio com as luzes e tal. Nesse momento sacamos que a integracao do grupo realmente tava muito boa.
Assistente de c‡mara
Minha quarta funcao foi assistencia de c‡mara, que parece uma bobagem quando a gente le nos crŽditos dos filmes, mas que para mim foi outra das experiencias mais ricas. O assistente de camara Ž o cara que se responsabiliza pela mocoila, que move ela para la e para c‡ a cada troca de plano a ser filmado, que mede o foco, que segura a camara para o fot—grafo quando rola ¬camara em mao¬, que coloca o diafragma de trabalho, que troca lente, que limpa lente e ventanilha a cada troca de lente, que carrega a pelicula no magazine Ð a parte mais ¬emocionante¬. Enfim Ž o guardiao da camara e nao p‡ra um minuto de trabalhar. Se rola uma pausa de 5 minutos para a equipe, ele tem que ficar sentadinho do lado da c‡mara para garantir que ela nao caia no chao e se espatife por uma eventual falha no tripŽ. O bacana dessa hist—ria Ž que nessas neguinho se familiariza com tudo que se relaciona a fotografia e j‡ chega melhor praparado para assumir a funcao de direcao de fotografia. Eu adorei ser ¬assistonta¬ e tive a sorte de ter um diretor de foto muito sussa e com quem trabalhei super bem, que foi o Enmanuel. A direcao era da Ilka, de edicao, e o curta se chama ¬Ayer¬ que quer dizer ¬ontem¬ em espanhol. A hist—ria Ž sobre uma mulher que viu seus pais serem assassinados e carrega esse trauma pro resto da vida. ƒ a œnica hist—ria sangrenta do nosso grupo, rararara.. Foi uma filagem tambŽm muito tranquila, que terminamos super r‡pido porque eram poucos atores e apenas uma locacao enfim, nenhuma grande emocao. Isso porque atŽ aqui ainda nao sab’amos o que viria pela frente.
Assistente de direcao
Fui assistente de direcao do Joaquin, que Ž de roteiro, algo que foi —timo porque somos muito amigos, nos entendemos super bem, etc, e isso Ž fundamental para esse trampo. Mas ao mesmo tempo tive a ¬sorte¬ de ter de cuidar da rodagem mais punk que tivemos. Bueno, o assistente de direcao Ž o cara que cuida do set. Ele Ž a ponte entre todos os membros da equipe e o diretor e Ž quem garante que se filmem todos os planos previstos para cada dia. ƒ o cara que nos filmes sobre cinema aparece dando ordem em todo mundo, gritando por megafone, etc etc. Ah, ele tambŽm tem que cuidar dos atores.
O trampo mesmo comeca antes da rodagem Ð ele tem que sentar do lado do diretor e tirar dele absolutamente tudo que ele pensa sobre a pelicula, cada detalhe de personagem, de locacao, de decoracao, efeitos especiais, de ator, de tudo. E ai o proximo passo Ž fazer com que o produtor consiga cada coisinha. Se a coisa entre diretor, produtor e assistente nao rola bem feita, na hora da rodagem o bicho pega e vira um caos.
Que mais? Bueno, cada problema que aparece nego vai e fala com o assistente e ele tem que resolver. E tem que pressionar a equipe de foto para que montem os planos no tempo previsto, tem que organizar entrada e sa’da de extra, etc etc etc. ƒ um trampo do cacete, mas a Ž bacana. Pelo menos para gente que era ¬o grupo tranquilo¬ ninguŽm chegou a ter estresse ao desempenhar a funcao, como aconteceu com algumas pessoas.
Acontece que o curta do Joaquin calhou de ser o que teve mais problemas ¬fora do nosso alcance¬ e ao mesmo tempo: no primeiro dia de rodagem choveu o dia inteiro e acabou a luz, e no segundo dia a c‡mara teve um problema e travou. AlŽm disso, a hist—ria era a ¬superproducao¬do grupo. Chama-se ¬Bombillos¬, que quer dizer ¬lampadas¬e trata-se de um homem com cabeca de lamapada que trabalha numa f‡brica de lampadas e que um dia se apaga e Ž expulso do trabalho. Pois Ž, simples assim, rarararara.
O legal Ž que a estŽtica era toda tipo desenho animado, entao construimos uma f‡brica de mentira com papel machŽ e fizemos o vestu‡rio dos atores com papelao. S— nessa foram dias e dias de trabalho, que com certeza valeu muito a pena. Ficou do cacete a bagaca.
Para se ter uma idŽia, na hora de filmar, AngŽlica Cristina alŽm de cuidar de tudo ainda tinha que coordenar a galera que manipulava as pecas da f‡brica, e era a coisa mais doida do mundo.
Como tivemos muitos problemas, esse foi o momento em que todos do grupo ajudaram em tudo. Desencanamos das formalidades de que cada um deve se meter na sua funcao e entramos todos para garantir que a coisa sa’sse. Foi uma doidera. Trampamos que nem loucos. Foi a œnica rodagem em que usamos o dia de intervalo para filmar, afinal tivemos quase um dia inteiro parados por causa dos problemas que apareceram. Mas saiu e saiu muito bonito.
Outra parte boa da hist—ria Ž que o ator principal era um menino lindo de 8 anos, o Sergito, e como eu tinha como funcao cuidar dele tambŽm, aproveitei para matar a saudade de ser tia e madrinha e curti o muchacho para caramba. Acabamos virando amigos, foi super bonito. No œltimo dia de rodagem eu tava atŽ borococho porque ele ia embora e j‡ tou planejando uma visitinha para matar saudade, rarararara.
Som
ƒ doido porque aqu’ na Escuela a c‡tedra de Sonido Ž a mais famosa e a mais importante, mas o fato Ž que nas rodagens dos 3 minutos todo mundo que fez som morreu de tŽdio, rarararararaÉ Nada, a parte de som Ž mega importante e nao tem a ver s— com trilha sonora. Tem a ver com absolutamente tudo que se escuta em um filme. Se nego nao tem uma boa captacao do ¬som direto¬vai ter trabalho mais que dobrado na hora da p—s-producao. Acontece que na pr‡tica neguinho nao d‡ bola e simplesmente liga a Nagra e grava o que ta ouvindo e pronto. No meu caso foi assim e sei que no de quase todos do noso grupo tambŽm. Agora chegamos em pos producao de som, entendemos que a coisa nao Ž tao simples como parece e neguinho ta virando madrugada na sala de mixagem para arrumar trabalho mal feitoÉ Hoje mesmo estou mixando o meu e amanha entro para mixar o do Enmanuel, de quem fiz a captacao.
Ele tb est‡ em roteiro e seu curta se chama ¬Ultimo¬, sobre um menino que foge de fazer a tarefa e enfrenta obst‡culos tremendos apenas para chegar ao encontro marcado com sua amada. ƒ todo lindoÉ hihihi. Essa tambŽm foi uma das rodagens sussas no geral e para mim mais ainda j‡ que eu tava na funcao vaga do momento.
Scripiti girl e edicao
Aqu’ eles chamam de script, mas ai no BrŽsil essa funcao Ž mais conhecida como continuista. No nosso caso quem fazia script era quem depois ia editar a bagaca. E a mim me tocou editar para um editorÉ hehehehe. Pedrim Ž o diretor do curta ¬81¬, inspirado em um conto da Clarice Lispector sobre uma senhora de 81 anos que sofre porque ainda tem ¬desejos sexuais¬. Como vcs podem notar, cada hist—ria Ž uma coisa completamente diferente da outra e isso Ž parte da ¬aura¬ dos tres minutos e do que faz dessa experiencia uma coisa doida de boa.
Meu papel nesse momento era acompanhar cada acao e cada detalhe dos espacos em que estavamos filmando para garantir que na hora da edicao tudo teria continuidade. Por exemplo, se o ator olhou para o lado esquerdo da c‡mara e no plano seguinte vemos a pessoa para quem ele est‡ olhando, Ž o script que tem que assegurar que o diretor nao vai esquecer de posicionar o cara do jeito certo. Mas durante os tres minutos acho que a funcao mais importante do script Ž cuidar da metragem de pel’cula. Isso Ž fundamental porque cada um de n—s recebe uma cota de pel’cula e tem que trabalhar com ela. Se acabar, acabou. Nessas, o script tem que avisar ao diretor se ele pode repetir determinadas tomadas ou se j‡ gastou muita pelicula e entao Ž melhor ensaiar bastante atŽ conseguir chegar no que ele quer e tentar fazer a coisa em tomada œnica. Digamos que a pr‡tica tem muito a ver com o conceito de ¬cine pobre¬, rarararaÉ
Para mim enquanto pessoa no n’vel do meu eu, script entra na leva das funcoes mais sussas e isso explica porque dificilmente alguŽm comenta ¬oh, que bom trabalho de script¬, rarararara.
A rodagem do Pedrim s— nao foi das mais tranquilas porque ele mesmo tem um jeito mais durao de ser. Na hora de tomar decisoes ou ter de mudar coisa rola uma cara feia e tal, mas nada que comprometesse o crima bao do grupo.
De todos maneiras o bicho acabou pegando na hora da edicao. Depois que armei o primeiro corte, o nego nao saiu mais da sala de edicao e ai eu me senti mais uma operadora de final cut do que uma editora. Entre indas e vindas, cortes e cortes chegamos a um corte final que obviamente Ž a cara do diretor, afinal Ž sua pelicula, mas que teve suas contribuicoes da editora tambŽm, hehehehehe.
E finalmente fotografia
Chegamos a conclusao que entre absolutamente TODOS do primeiro ano a funcao que dava mais medinho pela responsa que representa Ž fotografia. Expor bem uma pel’cula t‡ longe de ser a coisa mais simples do mundo e a gente j‡ sabia que a bagaca nao era facil pelo que aprendemos antes dos 3 minutos. Mas a bem da verdade Ž que para mim pelo menos foi a melhor. A mais emocionante. Estamos falando da big responsa de pensar a exposicao de luz, pensar na cara que vai ter a hist—ria, enquandre, cor, movimento de camara, alŽm Ž claro da operacao de c‡mara propriamente dita. Calhei de fazer foto para Manu, que tambŽm Ž de documental e com quem me entendo super bem. A hist—ria dela tem um pŽzao em Almod—var Ð Ž uma muchacha que se apaixona por um travesti. A producao ficou show de bola, armamos um cabarŽ gay e tivemos que falsear luz de noite trabalhando com luz natural. Estamos falando da minha primeira vez rabalhando com uma c‡mara de 16mm, que teve direito atŽ a dois planos de c‡mara em maoÉ ui! Rarararararara.
Essa foi a ultima rodagem e uma das mais divetidas porque era a coisa mais engracada ver aos atores Ð nossos companheiros de classe Ð vestidos de traveco, e de repente todo mundo encarnava a bicha louca, enfimÉ O curta nesse momento est‡ em mezcla e ficou beeeeem bonito.
De tudo um pouco
Terminadas as rodagens, chegamos ao momento conhecido internacionalemnte como¬depressao p—s tres minutos¬. Explico: nego sai de uma rotina doida de trampar que nem camelo direto para duas semanas seguidas sem ter absolutamente nada para fazer. Isso porque, por mais que a escola seja bem equipada, nao temos aqu’ 40 salas de edicao e sonido para que cada um ja comece a cuidar da sua pos producao ao mesmo tempo, sem contar o resto da galera dos outros anos que tambŽm estao com suas tesis e pre-tesis.
Ou seja, o jeito Ž arrumar coisas para fazer e nao enlouquecer atŽ que chegue sua data de edicao e som.
No meu caso, acabei me metendo nas rodagens dos dois grupos que comecaram a gravar depois dos tres primeiros e ai fiz de assistencia de producao a iluminacao e direcao de arte, fora algumas atuacoezinhas b‡sicas como extra e figurante, incluindo como morta em um acidente de onibus, verdadeira tragedia que pode ser conferida no blog do Dani, cujo endereco ja ta por ai nesse mega post.
TambŽm calhou tempo livre para aproveitar a piscina, ler um pouquim, voltar a ver peliculas e atŽ escapar a Havana para acompahar o desfile de Primeiro de Maio, a data mais importante daqui. Literalmente centenas de milhares de pessoas desfilam na praca da revlucao para reivindicar suas causas de demonstrar seu apoio ao comandante en jefe.
Pos production
E ai chega a p—s producao. Nao vou negar que achei toda a etapa chata demais, afe maria. Agora que Ž das mais importantes e de fato Ž onde nascem as peliculas, tambŽm nao h‡ como negar. Nesse sentido, terminar tudo e olhar o trabalho finalizado Ž tambŽm a coisa mais linda. Definitivamente Ž s— depois de terminadas edicao e mixagem que a gente sabe de verdade de que se tratam os trabalhos e o que cada um conseguiu dizer. TambŽm Ž nesse momento que fica claro que sonido pode ser muito sussa durante as rodagens mas demada um puta trabalho em p—s e Ž um elemento que pode mudar absolutamente tudo em uma hist—ria.
Logo que terminaram as rodagens, os negativos iam chegando aos poucos e viamos a projecao do material simplesmente revelado. Era toda uma emocao, mas as vezes podia ser decepcionante tambŽm, porque alguma coisa tava super-exposta ou porque simplesmente nao era possivel ver uma hist—ria clara ali. Craro que nao! Sem edicao e sem tratamento de sonido, nao existe cine. Agora, que ninguŽm merece ficar enfurnado em uma sala com ar condiconado por seis dias seguidos, trampando atŽ madruga, isso Ž fatoÉ Admiro editores e sonidistas cada dia maisÉ Que bom que eles existem porque eu dificilmente encararia essa parada por muito tempo. No caso de edicao, nao tenho como fugir Ð e nem quero - porque estou em document‡rio. E atŽ gosto da coisa, de brincar de montar um monte de hist—rias diferentes com o mesmo material, essas coisas doidas que ensinam muito de linguagem de cine.
E no mais
Bueno, das coisas mais importantes que significaram os 3 minutos, uma delas foi me dar conta de quem vim para essa Escuela para trabalhar com algo que me mobiliza e em que eu acredito. Caraca, isso Ž um privilŽgio enorme. Lembro de que em algum momento eu tava saindo para almocar durante a rodagem da Ilka e do nada me sentia tao feliz, mas tao feliz e nao conseguia entender porque. Por que ser‡?
Porque tava trampando com pessoas bacanas, em projetos que tem o pedaco de cada um ali, vivendo parte de um aprendizado que t‡ s— comecando e que j‡ Ž super impotante. Cada funcao, cada rodagem, cada dia era uma coisa nova e muito bom estar ali trampando e dividindo com esse grupo que formamos.
Agora, que d—i, d—i. D—i bastante estar longe tanto tempo de todos e de tudo e ainda ter que comecar do zero em um lugar desconhecido, onde as pessoas falam uma lingua que nao Ž a sua, em uma bolha doida como Ž essa escola, naquele que Ž tido como o œltimo pa’s socialista do mundo. Mas vale muito a pena. Demais da conta. E a verdade Ž que a dor vai diminuindo conforme o tempo passa. As coisas que vamos construindo aqu’ passam a ter um valor importante e a fazer parte da gente de verdade, o que ajuda e muito a superar as saudades todas essas. J‡ comeco a admitir com mais sinceridade que essa Ž minha casa pelos pr—ximos dois anos e meio.
Enfim, enfim, tudo isso sao os 3 minutos.
Deu para entender mais ou menos porque sumi? Rararararara