23.1.08

GUATEBUENA Y DOIDA

Heranca milenar, o costume de colocar ouro no dente é bastante presente por lá. Tem até criancinhas com dentes emoldurados ou desenhados em linhas douradas. Puro design!

Dificil acostumar com o fato de que a populacao anda por ai armada. Essa placa é da entrada de um parque, desses que o povo frequenta aos domingos. É preciso conhecer a história recente do país pra poder entender coisas assim... IMPORTANTE: durante nossos 15 dias por lá nao tivemos absolutamente nenhum problema com a violencia.
Um dos muitos onibus que pegamos, em companhia de dios...

OS TRES VIAJANTES

Imagem e semelhanca. Joaquin, em perspectiva com a montanha conhecida como ¨Perfil do Maia¨ou ¨Nariz do Indio¨. Sim, é de verdade. Parece mesmo que ali esta um grande maia deitado, feito de mato e terra.

Milafita, também conhecida como ¨Milafoto¨, a maniaca da cámara. Ao fundo, mais um vulcao guatemalteco, dessa vez em Antigua Guatemala.
Meu pé, meu querido pé, bem no meio do lago Atitlán.

ESTIVE NA GUATEMALA E LEMBREI-ME DE VC

Essa montanha ao fundo é um vulcao. Sim, um vulcao de verdade. O país tá cheio deles. Esse é um dos tantos que ficam as margens do lago Atitlán.

Duas miradas roubadas. Eu olho ele e ele me olha. Onibus en Antigua Guatelama.

Ok, eu sei que o carnaval já ta quase ai, mas como ainda nao tinha escrito, preciso contar (ou melhor, mostrar) coisinhas bacanas do fim de ano. Porque nesse fim de ano eu fui conhecer a Guatemala. E a Guatemala é o máaaaximo, rarararara. Viajamos juntos Milagro, Joaquin e eu, trio viajero integracao e paz total. Saímos daqui dia 23 de dezembro e ficamos por lá até 6 de janeiro. A idéia era conhecer boa parte do paés, mas sem tanta correria. Acontece que 15 dias para isso é pouco, por mais que estejamos falando de um lugar que é pouco menor que o estado de Sao Paulo. Entao acabou sendo meio correria messs, nao teve jeito. Conhecemos a capital, Antigua Guatemala, muitos pueblitos ao redor do lago Atitlán, Flores (onde ficam as ruinas de Tikal), Rio Dulce e Coban. Mas dessa vez, para nao ficar no blablablá de diário de viagem, preferi separar um par de fotos e compartilhar as imagens desse lugar genial que é a pequena e bela Guatemala.

FINALMENTE, QUESTAO DE TEMPO



¨Cuestión de tiempo¨ é o titulo do documentário que fizemos, que nasceu com o objetivo de tracar um panorama de duas realidades ideológicas presentes na Cuba de hoje. Uma delas é a dos que viveram o processo revolucionário e sabem que a transformacao da Cuba de Batista na Cuba de Fidel é um marco histórico e fundamental desse país. Essa visao nos dá Damian, um senhor de 77 anos que sentiu na pele as melhorias que vieram com a revolucao e que por isso mesmo segue sendo um grande defensor da Cuba Socialista. Conhecemos um pouco da sua história, mas principalmente sua ideologia, por meio de suas décimas, que sao uma espécie de repente muito comuns aqui em Cuba. A outra parte quem nos conta é René, um jovem de 23 anos, rapper e poeta, que chegou ao mundo e encontrou uma Cuba Revolucionária em plena crise. Conhecemos seu trabalho e suas idéias, que também defendem os ¨logros¨ da revolucao, mas que identificam muitos pontos que pedem mudancas e transformacoes, porque a Cuba dos anos 2000 nao é a mesma Cuba dos anos 1960. Como um diálogo indireto, nos aproximamos dos dois personagens e, por meio de suas rimas, identificamos pontos em comum e pontos dissonantes dessas vozes.

COMECEMOS DO FINAL

...do nosso ultimo trampo do semestre passado, o documentario referido nos ultimos posts deste brógui, há dois meses atrás. Pois bem, resulta que editar e mixar o material coletado da maneira que descrevi ali embaixo, foi uma coisa doida. De novo. Nao quero parecer repetitiva, mas realmente me vi diante de situacoes que me chachoalharam. Como já comparti com algumas pessoas (aliás este texto tem muito desses ¨compartilhares¨), mais que todos os outros, esse foi um exercicio que fez cair muitas fichas com relacao a minha busca profissional aqui na escola. Questionar o porque de estar aqui, a responsa que representa, e principalmente, que diabos quero dizer pro mundo fazendo document‡rio? Pois é, a coisa foi nesse nível.Acontece que, depois das flores e rosas durante a pesquisa e a rodagem, quando chegamos na ilha da edicao o bicho comecou a pegar. Cheguei com o material e um roteiro detalhado, com decupagem e tudo, jurando que era só comecar a colar as bagacas, que a coisa sairia relativamente tranks. Mas nao foi assim. O que rolou foi que montamos a superestrutura e comecamos a afinar cortes, um ótimo momento também para ir provando variantes e identificando o que realmente funcionava e o que era melhor dar uma nova cara. Ai cortava daqui, colava de lá, picava daqui, enchia por la e a coisa nao saia. Ou melhor, saia de um jeito que a gente nao tava satisfeito. Chegamos ao último dia de edicao e o resultado nao agradava a ninguem da equipe. Foi muito ruim. Senti o peso do fracasso nas costas, chorei horrores, passei uma noite digerindo tudo, avaliando minha postura desde o comeco, o que tinha saido bem, o que tinha saido mal, onde enxergava erros, onde nao tinha nada de mal, e principalmente tratando de aceitar que como diretora, ou seja, cabeca de equipe, eu era também responsável pela insatisfacao e frustracao dos demais envolvidos no trampo.

Meu primeiro gradiente
Pois é, eu disse, foi muito louco. Fez cair minha ficha sobre a responsa que é viver o risco do sucesso e do fracasso permanente que está implicito nessa profissao que eu tou buscando. Cara eu acabo de filmar um docu em HDV, com uma equipe que incluia fotografo, produtor, sonidista, editor, enfim, um verdadeiro luxo no mundo real e pobrezim do document‡rio, sacomé? Nao dá para chegar num ponto em que ¨ok, entregamos qualquer coisa¨. Nao pode. Mas confesso que durante a crise da edicao eu cheguei a pensar inclusive nisso. Enfim, depois de avaliar tudo e conseguir por a cabeca no lugar, no dia seguinte nos reunimos todos da equipe, dispostos a conseguir melhorar nosso filho defeituoso.
Foram muitas lágrimas compartidas, muito pensar, provar, reavaliar, conversar e coisa e tal, até que conseguimos chegar a algo honesto e que tem a mao e a identificacao de todos. O mais legal é que a apresentacao do trabalho final foi bacana, sala cheia de gente e muitos elogios. Sai de la feliz. Mas sei que é um trabalho com muitos limites. Aliás outra parte da aprendizagem rolou agora, há poucos dias. A primeira oficina que tivemos esse ano foi sobre ¨producao para documentário¨, com uma argentina fodona, a Carmen Guarini, do Cine Ojo (www.cineojo.com.ar). Uma das primeiras coisas que ela pediu foi pra ver nossos documentários com a gente, para fazer uma avaliacao, já que finalmente comecamos a especializacao de documentário.Fazia um mes que tinhamos terminado tudo, entao o bacana foi, primeiro, poder ver de novo o trampo depois desse tempo. Parece que a gente consegue ver com outros olhos, muito mais críticos. E ai mesmo eu identifiquei muitas falhas do projeto que partem da concepcao, de ter comecado errado, porque afinal de contas é meu primeiro gradiente. Nao dá para querer que seja genial e revolucion‡rio, até porque eu nao tive essa pretensao em nenhum momento.
Enfim, dói e a gente aprende a ver os erros. Dizem que é parte do desenvolvimento do ser enquanto profissional, né? E assim foi. Pude entao ver as coisas com novos olhos e identificar coisas bacanas e problemas. E da parte da Carmen, bueno, ela deceu o cacete em todos e falou que a gente tem um looooooongo caminho pela frente, rarararararararara... Tem que rir para nao chorar.

Confissoes de adolescente
Mas é que nao tem jeito, as criticas dela eram todas pertinentes. Nem preciso dizer que isso desencadeou uma super crise no meu eu, né? Imagina, Angélica Valente acostumada a ser reconhecida pelo que faz, de repente se ve diante de um trabalho que a mulher acha fraco. Pior, que eu mesma acho fraco! Afe, fueda. No momento máximo da ultima TPM cheguei a pensar em sair da escola porque ¨eu nao tenho talento para isso entao tchau, vou virar cozinheira e ser feliz¨, rararararara. îbvio que nao vou fazer nada disso, mas que passou pela minha cabeca, passou. Ok, já passou. Superado o trauma e bola para frente, que o caminho é mesmo longo e eu tou muito disposta a seguir por ele. É nóis.

23.11.07

OS TRABALHOS

Terminado o processo de investigacao, tinhamos como outros possíveis temas um bairro de Santa Cruz chamado Harlem e uma personagem pela qual me apaixonei, chamada Michini. Harlem nos interessou por ter muitas semelhancas com seu chará estadunidense, ou seja, grande maioria de moradores negros, com um histórico de resistencia em favor da revolucao e da causa afro cubana. Disso poderiam sair boas reflexoes nao só comparativas, mas também pelo fato de que hoje estao precisando voltar fazer o bairro ter a vida que tinha há até pelo menos 10 anos atrás.
Já Michini tem um quiosque de comida rápida em Hershey, em frente a uma pequena estacao de trem, o que garante clientela fiel. Ali ela vende café, suco, pizzas, bolos e outras tantas coisas que compoem o universo da comida de rua cubana. O que faz dessa negra, gorda, do sorriso estatelado, um super personagem é a maneira como ela interage com os clientes, chamando todo tempo por nomes carinhosos, fazendo graca, dando bronca em forma de piada, advinhando o que querem. Quando estive em Hershey em dezembro passado fui comer lá e fiquei uma hora parada só olhando as coisas acontecerem naquele espaco tao pequeno e tao doido. Diga-se de passagem, o documentario que fariamos ali seria assim mesmo, camara observadora total, só deixando a mocoila atuar com essa desenvoltura apaixonante que ela tem. Se um dia voltar para lá com tempo - e penso que um dia inteiro basta - gravo Michini, sem dúvida.
Pero bueno, decidimos pelos dois poetas, apresentamos a proposta, nos aprovaram e partimos pro abraco. Mas a coisa nao foi tao rápida assim.

A segunda tanda
Por uma questao de organizacao, tivemos dois blocos de rodagem, ou como eles chamam aquí, duas tandas. Na primeira, rodaram os 6 estudantes da cátedra de direcao e na segunda, nóis de documentário. A principio ficamos entusisasmados com o fato de comecarmos depois, afinal teriamos mais tempo para seguir investigando e adiantando pré-producao. No final das contas, o tempo foi um pouco demais e chegamos a ter momentos de saco cheio de tanto esperar para comecar a rodar de vez.
Obviamente que o ¨saco cheio¨ tem de ser relativizado, porque estando hospedados em um lugar que fica a beira do mar, com milhares de opcoes de praias e distracoes para passar o tempo morto, qualquer ser humano pensaria duas vezes antes de queixar-se. Entonces, para suportar a espera, o jeito foi aproveitar para seguir os trabalhos com os personagens, curtir muita praia, caminhadas e passeios pelos arredores, ler os livros que trouxemos, pensar, repensar e reestruturar a primeira versao do roteiro... E de repente os 10 dias voaram.

A hora H
A rodagem foi outra experiencia super linda. Obviamente que eu tava um pouco ansiosa com essa coisa de ter de dirigir uma equipe, mas a integracao tava tao boa que a coisa foi mais sussa do que imaginava. Todos estavam metidos na historia que decidimos contar e sabiam exatamente o que estávamos buscando em cada momento. Todos ajudavam na hora de construir as imagens e os sons que vao compor esse universo, enfim. Mais do que uma equipe, éramos co-autores do trabalho e foi muito bom.
Outra coisa bacana foi poder comparar as dinamicas de passar um dia todo com um senhor de 77 anos e com um marmanjo de 20 e poucos. Obviamente que o senhor demanda muito mais atencao e calma, enquanto o cara em dois minutos estava pronto para fazer o que a gente pedisse.
Já no ultimo dia de rodagem, voltando de onibus para nossa ¨base¨, tava olhando pela janela, viajando na composicao da luz escura da noite com as reflexos pouco iluminados dos faróis nas placas de sinalizacao e de repente, pum, me dou conta de que havia terminado uma rodagem de um documentário em Cuba. Quem acompanhou minhas tentativas tantas de chegar até aqu’ pode imaginar mais ou menos como me senti nesse extao momento. Doidera.


E FINALMENTE A PÓS
Agora só falta armar o roteiro de edicao, editar, mesclar sonido e ir pro abraco, rarararararara. Quer dizer, ainda resta um longo caminho até finalizar o exercicio que, de acordo com o cronograma, deve terminar dia 12 de dezembro, quando tentarei mandar mais noticias por aqui.
Por enquanto fica o registro apressado de mais um processo eictviano desses me fazem pensar na vida e agradecer a insanidade de nao ter desistido de vir para cá mesmo depois de duas tentativas frustradas. Como diria Ariel, ¨¨yeah¨.

OS LUGARES

LÁ NAO TEM CHOCOLATE
Hershey é um pueblito constru’do durante os anos 30 do século passado (adoro dizer ¨século passado¨) pelo entao senhor Hershey, isso mesmo, o manda-chuva da corporacao chocolateira. Segundo dizem, trata-se do œltimo povoado modelo do mundo e o œnico daqui do país. Resulta que o cara decidiu instalar em Cuba sua principal fábrica de acucar - matéria prima para seus chocolates produzidos nos Isteitis e vendidos no mundo inteiro. E para garantir que o povo trabalhasse feliz e satisfeito, ele entao montou toda a cidade, com centro comercial, hospital, cinema, transporte ferroviário e demais servicos necessários para a populacao e para a escoacao da producao, além de bairros separados por classes sociais, obviamente. E obviamente quando chegou a revolucao o cara saiu correndo daqui.
Fidel estatizou a fábrica, que continuou produzindo como a mais importante do país. Até que um belo dia, passados mais de 20 anos, a muchacha entrou em decadencia e teve de ser fechada.
Desse pequeno fragmento genérico da história já da pra imaginar o que aconteceu com o lugar, que para mim é uma mistura de melancolia com surrealismo. Eu ja tinha passado por lá em dezembro do ano passado e ao voltar senti a mesma coisa. A arquitetura é totalmente gringa, com casinhas de madeira coloridas e construcoes de pedra imponentes, algumas ainda bem conservadas, outras muitas já caindo aos pedacos. E que isso esteja encrustado em plena Cuba socialista é realmente surreal. Já a melancolia paira no ar porque a cidade, por mais que ainda tenha alguma vida, continua a sombra desse passado ¨glorioso¨, tanto de quando o gringo mandava, como de quando foi a grande fonte de renda da agricultura socialista. Resulta que entre as poucas pessoas que vivem ai Ð imagino que a populacao nao deve passar de mil, mil e poucas pessoas - existe muita coisa para ser tranformada em cinema. De fato, dos 12 grupos que formávamos, 3 rodaram seus trabalhos por la.
A prop—sito, desde que Mister Hershey se foi, nunca mais venderam chocolates em Hershey.

O MISTÉRIO DE CANASI
Nao tao pequena como Hershey e nao tao grande como Santa Cruz, Canasi é vista como uma espécie de ¨cidade maldita¨, mas niguém sabe explicar exatamente porque. Parece que o fazendeiro que fundou o povoado há mais de cem anos tinha um super projeto de desenvolvimento para o lugar, que nunca foi para frente.
A cidade é cheia de morros, subidas e descidas, coisa rara aqui em Cuba. No meio dessas ruas tortas, a populacao majoritariamente de velhinhos, as construcoes antigas e desgastadas, além dos contos misterioros que se escutam por aqui e por ali, compoem a atmosfera ¨fantasmagórica¨da qual tanto se fala. Tem até uma pedra de Menendez conhecida como a respons‡vel por essa estagnacao do pueblo.

Engracado que de tanto escutar falar da pedra, chegando por lá perguntei pela tal. Tava curiosa para ver a cara desse ente fant‡stico capaz de imobilizar uma cidadezinha. Resulta que a bagaca é tao, mas tao sem graca, que cheguei a cogitar a hip—tese de fazer um documentario só com relatos misteriosos sobre sua existencia para mostrá-la, medíocre, ao final. Sabe aquele ¨fuen fuen fuen¨ que a gente escuta nos programas de teve quando alguma coisa sai errado? Seria por ai a coisa.
Mas a verdade é que eu, que tenho mania de ver coisa bunita em tudo quanto é lado, nao cheguei a ser contaminada por esse ar todo estranho. O que vi realmente foi um pueblito como tanto outros daqui, do Brésil ou de qualquer outro lugar do mundo, cheio de mistério sim, mas cheio coisa boa escondida em cada ruga de cada morador. Foi lá que encontrei um de meus personagens, Damian Hernandez, 77 anos, aposentado, poeta amador e repentista. Sim, aqui em Cuba também tem repentista. Com a particularidade de que os repentes daqui sao chamados de dŽcimas porque quem se atreve a praticá-los tem que respeitar a forma de estrofes de 10 versos cada. Damian o faz desde jovenzinho e hoje as vezes ainda arrisca umas improvisacoes. Tem uma pilha de cadernos só de décimas sobre a revolucao, mas o que lhe inspira mesmo sao as mulheres, as bedeiras, as bobagens e as coisas boas da vida. Um velhinho safado, poder’amos dizer.

SANTA CRUZ DO ESQUECIMENTO
Esse é o titulo do documentario que estao fazendo Fofy e seu grupo e que me parece uma boa forma de se referir a Santa Cruz. A cidade tem o porte de San Antonio, com a linda vantagem de estar a beira do mar. Mas Santa Cruz parece mesmo esquecida, perdida no tempo. A história da cidade é bem doida, parece que por aqui já teve abundancia de ouro, riqueza das fábricas de rum, energia das termelŽtricas, resistencia forte do partido comunista, agricultura que abastecia quase toda a ilha. E agora nao resta quase nada disso.
No geral, é uma cidade com mais cara de cidade, com movimento, gente de muitas idades, escolas, centros comerciais, uma praca principal unindo tudo isso, enfim, um ambiente mais urbano capaz de dar espaco inclusive a um grupo de jovens rappers dispostos a criticar a situacao atual do país.
Meu segundo personagem é um deles, René, muchacho de 23 anos, funcionário da casa de cultura, estudante de sociocultura e também poeta. Damian e ele compoem o mundo que decidimos abordar, um binomio de geracoes distintas e parecidas ao mesmo tempo, especialmente pelo fato de serem poetas amadores, defensores dos ideiais da revolucao, mas cada um coerente com seu tempo. Nossa tese é a de que o tempo muda os contextos e portanto muda também as idéias. Aqui em Cuba há uma certa resistencia em aceitar este fato que pode parecer tao óbvio.

O FINAL DO PRIMEIRO TEMPO

só pra dar invejinha, esse é o campismo em que passamos o ultimo mes trabalhando. detalhe para o mar feio em background...



Pois é, chegou. Terminamos a primeira parte, minha gente. E só para variar foi mais um dos períodos de experiencias doidas de vida e de aprendizagem cinematográfica – ok, piegas, eu sei, mas cá entre nós, sabemos que eu sou piegas messs, nao tem jeito.

Bueno, como dito no post anterior, passamos um mes ¨isolados do mundo¨ e sem acesso a internet, mas metidos de vez em Cuba e fora da eterna bolha eictviana. Chegamos dia 15 de outubro (afe maria, parece que faz tanto tempo) diretores, roteiristas e produtores a cidade de Santa Cruz do Norte, pertencente a provincia de Havana, quase na divisa com a provincia de Matanzas. Durante os primeiros 15 dias, a missao era investigar, elaborar 3 propostas de trabalho para realizacao e apresentar ¨a preferida¨ para a banca examinadora ( com os chefes de cada cátedra e diretores academicos) no processo ¨mundialmente conhecido¨ como pitch. Além de Santa Cruz, tínhamos a possibilidade de buscar temas também em Hershey e Canasi.

14.10.07

NOS VAMOS

Dia 15 de outubro, amanha, segundona, marchamos diretores, documenaristas, produtores e roteiristas rumo ao primeiro exercicio prático de documentário do curso. Uma semana depois chegam os fotógrafos e só na outra semana, já prontos para rodar, vem o povo de sonido. A volta para escola tá prevista para 16 de novembro.
Passamos essas quatro primeiras semanas em aulas mais teóricas do que práticas e agora mais uma vez é hora de por a mao na massa.
Entre outras coisas, isso significa um mes fora da escola e sem acesso a internet. Mas isso é só um detalhe da história, já que a experiencia tem tudo para ser das mais intensas do ano. Pelo menos segundo relatos do povo que passou por isso o antes da gente.
E bueno, como nao conhecemos o lugar, fica dificil imaginar o que pode sair de lá, que também é bom para chegar fresco e receber a inspiracao local. De qualquer forma tenho uma cartinha na manga pra casos de emergencia e falta de idéias que realmente parecam valer a pena.
O fato é que no meu caso especifico isso também significa ter contato pela primeira vez com a especialidade escolhida, o que é lindo. E que também dá medinho, obeveamente, afinal sao outras e maiores as expectativas. É a hora de cair a ficha que estou estudando para ser diretora de documentários, e juro que essa palavra me deixa tantico assustada.
As equipes sao integradas por diretor, produtor, roteirista, fotógrafo e sonidista. Meu grupo é formado por Johanne (Rep. Dominicana-produtora), Pablo ( Espanha- roteirista), Arturo (México - fotágrafo) e Jonathan ( México - sonido). Ah, sim, e eu, brasileira, dirigindo. Posso recramá nao. É um povo bao que só vendo. Ojalá a gente saiba trabalhar bem juntos.
No proximo post conto as historias aqui também.

O LUGAR DA MINHA COZINHA

Eu adoro dizer que sou uma nova mulher cada vez que passo por qualquer tipo de transformacao, qualquer mesmo. Se estou apertada para fazer xixi e finalmente consigo fazer, digo que sou uma nova mulher. Se comi depois de um periodo longo de fome, idem. Nem sempre digo quando tenho uma aula super boa ou leio algo que me marca bastante, mas enfim, também pode acontecer.
Mas agora sim é verdade, a mais pura verdade, é sim. Eu sou uma nova mulher e a razao dessa mudanca é que tenho praticamente uma cozinha inteira no meu quarto. Armei uma espécie de balcao a la chef jovenzinho ingles metido a frances, onde estao dispostos o escorredor de pratos, uma prateleirinha de temperos, potezinhos empilhados com quinquilharias, frascos de molhos diversos, azeite, talheres de cozinhar, um fogaozinho eletrico de uma boca e até um liquidificador. Como disse um amigo aqui, ¨o povo já tem até eletrodoméstico¨. É a ascensao social, minha gente. Uma beleza, pode crer.
Esse balcao na verdade é o que seria o maleiro do armário do quarto, mas para o qual, seguindo o exemplo de muitas pessoas, resolvi dar um uso mais interessante. E ai enquanto em cima é essa cozinha high tech, embaixo guardo pratos, talheres, panelas e potes de plástico, além do meu lindo estoque de secos - porque os molhados ficam fora do quarto, na geladeira que divido com a Jana.
Tudo isso para poder fazer comidinhas boas de vez em quando, melhorar a comida do comedor quase sempre, e receber os amigos.

NOVO!

Novas pessoas, novas aulas, novos professores, novas obras, novos equipamentos, é tanta¨novidade¨ que parece até campanha do Maluf - ou de relancamento dos mesmos produtos de sempre. E, como qualquer campanha do Maluf, também deixa no ar a sensacao incomoda de que nao há nada de novo.

NOTICIAS DO POVO

Faz 4 semanas que teve inicio desse meu segundo ano, já deveria ter mandado noticias, né messs? Pues, as coisas por aqui vao bem.
Tenho um quarto novo que parece casinha e me conforta. Levei tres dias para por as coisas em ordem, mas valeu a pena, porque nao conseguiria comecar direito o semestre enquanto ele nao estivesse em órdi. As portas estao abertas para visitas, cafés, comidas e papo furado, sim? Quando puder, vem ver como ficou.
Os dias tem sido ensolarados, com pancadas de chuva pela tarde. Lá pelas 4 horas, nao tem jeito, o aguaceiro vem que vem com tudo e acaba levando embora a luz. Mas tudo volta ao normal em menos de uma hora, sempre.
A familia também vai bem.
Mari demorou, mas chegou agorim, linda como sempre e cheia de cuidados com a súde porque tá ruizinha do estomago.
Fabinho nao resistiu aos encantos da viagem e voltou puro mexicano, além de ter encontrado animo para se juntar ao admirável clube dos que cozinham quase diariamente (um dia eu chego lá).
Mane além de trabalhar muito e fazer fama com seu segundo ¨longa¨, emagraceu horrores e continua a mesma louca de sempre. Vilma tambem, claro.
Joaquim as vezes parece isolado do mundo, as vezes é o melhor amigo de todos. Tá estranho esse moco e ainda nao descobri porque.
Capo continua peludo, sarcástico e terno, e nossas conversar ainda me parecem a forma mais divertida de se conhecer esse país.
Carlos e Ariel agora gritam ainda mais com a ajuda de 3 novos costariquenhos que se juntaram ao grupo dos ¨mae¨. Ariel, de quarto novo, é meu vizinho.
Jana e Pablo quando chegaram pareciam irmaos gemeos, coisa mais engracada do mundo. Engordaram juntos e ja estao emagrecendo juntos, trabalhando juntos, morando juntos, enfim, construindo coisas bonitas por aqui.
Karina descobriu que abracar amigos é uma delicia e anda a menos peruana e mais carinhosa de todos. Só perde pro Capo, que tem o dom de trazer rosas pros amigos em plena terca feira a noite.
Pedrim foi morar lá longe e tá tao cheio de trabalho e distracoes multiplas que nem sei dar noticias direito.
Bucas cortou o cabelo e tá a coisa mais linda, o velho lobo do mar, já retomando suas táticas infaliveis para espantar a solidao de vez em quando. Mamae, como sempre, fica orgulhosa.
O Ro? Bem, o Ro continua sendo um caso a parte, maldito menino talentoso que se esconde no quarto e só sai quando dá na telha. Pela cara corada e as mœsicas que anda ouvindo, parece que está bem.
Dani tem trabalhado muito, mas em compensacao outro dia teve sua noite dos sonhos: só música brasileira e zero regaeton, como ele sempre quis e do jeito que o povo em geral sempre recrama, rararara. Nao só ficou até o ultimo criente da festa como chegou a curtir um tempo sozinho a bagaca, extasiado, numa comunhao doida entre ele e seu computador, quando a cafeteria ja estava completamente vazia. Só saiu do transe quando a tiazinha da limpeza, as 7h da manha, pediu para ele levantar o pé para ela varrer. Pois é, esse é o Dani.
Jonathan ganhou um sobrinho de nome Leonardo e nem parece o velho macho mexicano. Tá, eu sei, ele nunca pareceu, mas é que essa coisa de sobrinho mexeu com ele. Tá babao demais da conta. Cortou o cabelo de novo e agora chega ao 27timo novo visual desde que entrou na escuela. Ah, sim, temos novos companheiros de comunidade. Sao muitos. Tem gente que ainda nao troquei palavra e gente que chegou chegando, uma beleza. Marcela é como se j‡ fosse daqui, Marquis enche os pasillos de cheiro bom, Julio é uma mistura de tanta coisa gostosa que nem parece de verdade. A brasileirada trouxe vibra mineira, paulista, potiguar e pernambucana. Adouro.
E no mais, a rotina de sempre. Aulas aqui, festas ali, filmes aqui, trabalhos allá, a ausencia presente de um povo que nao volta mais e a sensacao estranha de estar em uma casa e sentir saudade de outra.

NAO ERA MENTIRA

Mas por fim nao trouxe a tapioca. Deixei em casa, num quase ato reflexo de rejeicao já que a tentativa citada alguns posts abaixo foi um verdadeiro fracasso. Deixa a tapioca pra quem sabe preparar, né nao? Mas a massa de pastel veio e já tem data marcada para morrer. Depois envio relatos do ritual assassinístico.
Acho que esse ano nao perco quilos com a mesma facilidade…

QUANDO A FICHA CAI

Levei 28 anos pra me dar conta de que horizontal é a linha do horizonte.

23.8.07

ADJETIVO




Sim, era isso mesmo, que que havia de errado? Com tantos Beneditos, tantos Plácidos, tantas Milagros, Perpétuos, Gastões, Das Dores, que problema havia com seu nome?
Era assim e pronto.
E, com o perdão da rima pobre, Misério vivia uma vida miserável. Sem mis en cene, sem mística e quase sem música. A mesma rotina de sempre, comer as migalhas recolhidas à lua e ao sol, olhar e não ver nada.
Vomitava com frequencia. Sofria de uma bulimia imposta pelos restos, aos quais, diferente dos outros, ele não se acostumava. O fedor, odor podre, difícil de habituar. Mesmo assim alimentava-se. Três vezes ao dia, seguindo o itinerário dos caminhões. Não gostava de revirar lixo, preferia catar o que restava no rastro.
Pois é, Misério era seletivo. Selecionava os cantos onde poderia cochilar, diferente daqueles em que fazia a cesta ou dos que serviam para o descanso de um dia completo. Selecionava também os bairros por onde andava, porque não gostava de ficar com os pés sujos de lama de poça.
Em uma seleção antecipada, Misério havia selecionado até a cor dos sacos de lixo que um dia poderia vir a revirar. Mas, por enquanto, os rastros dos caminhões lhe eram suficientes.
Numa certa altura dessa sua vida mísera( é irresistível, desculpem-me), Misério constatou satisfeito: atingira o estado de transparência, o que lhe poupava o incômodo das caras incomodadas. Mas ele mesmo incomodava-se muito. Além das poças de determinados bairros, incomodava-se com crianças remelentas, com o grito das gatas no cio, com fachadas cinzas de edifícios metropolitanos, com transeuntes vestidos de verde, víboras notúrnicas, raios de sol desangulares, solfejos e folguedos populares entoados por grupos experimentais burgueses. Incomodava-se principalmente com a palavra burguesia e esse seu som afrancesado. Não a pronunciava nunca para não vomitar além do costume e assim poupava sua rotina de desgostos maiores aos que ele já estava habituado. Misério tinha lá desses caprichos, cuidadoso com sua vida e o fato de só lhe restarem restos, mais uma redundância desse humor negro sem graça que era existir.
As crenças, como dissemos, ele havia deixado de lado, assim como companheiras e outras formas de espantar a monotonia. Ele não gostava de espantar a monotonia, não suportava batidas de carro ou qualquer incidente que pudesse mudar um pedaço do seu estar no mundo. Quando percebia algo por acontecer, fechava os olhos e assim ficava por uma, duas, três horas inteiras, o tempo necessário para que a vida recobrasse o sentido de sempre, os mesmos sons e movimentos dos quais ele se via regente, afinal. Nada de clímax. Nem de “um belo dia”. Sem conflito. Sem história.
Porque ele era, simplesmente, e não se via condenado, e pronto. Condenado pelo nome? Era só o que faltava. Mudaria alguma coisa se ele tivesse nascido Riquezo? Af. Pra viver tão adjetivo, ele não titubeava. Nem jardins, nem glamour, nem falso brilhante. Se era pra se dedicar de tal forma a só ser, escolhia mesmo a miséria.

22.8.07

CONHEÇO ESSA HISTÓRIA


Ela achava que não se importaria mas o fato é que o cara tinha outra. E, porra, ser a outra era foda. Ou pior, só foda. Mesmo que parecesse romantismo demais querer mais do que foda, o vício literário, coisa e tal. Não havia escapatória. Ninguém poderia convencê-la de que a espécie precisa sobreviver independente das construções sociais, do amor ou dos hormônios e químicas que a ele correspondem na nossa culturazinha essa. Ela ainda acreditava.
Mas o cara era bom de papo e o máximo de ceticismo a que ela se permitia era exigir além de sexo, um bom papo. Desses que a punham a pensar na vida e nas lou-cu-ras pouco cotidianas que a compõe e a faziam sentir-se diante de alguém um pouco mais digno do que ela, porque ela só queria ser com outro (mas não como a outra, né, béim). Mesmo que jurasse ser essa sua única certeza: de que não seria levada. Apesar da música. Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar. Acontece que ela preferia Cartola. Disfarça e chora.


São Paulo, um mês frio de 2003.

EU TENHO UM BAÚ


O Quintana também tem, e o meu, menos inspirado, de alguma forma também me espanta. Ele tá um pouco vaziii, mas ai eu não tô fazendo nada, e ai é legal movimentar um pouco o espaço aqui, então decidi que " vou estar postando" umas coisim que encontrei nele, enquanto aproveito para "estar remexendo", revirando, reescrevendo, enfim. Toda gerúndia.

mira! a imagem aí de cima pertence a esse site/blog aqui, ó: www.carnecrua.com.br/.../10/_tarde_de_pintu.htm . Juro que não estou fazendo uso comercial dela, ok?

TAPIOCA


Tem umas coisas que acontecem quando a gente quando a gente sai do país. Tipo, ter desejo de umas comidas tipicas que a gente nunca comeu, só porque são típicas e, caramaba, vai entender, fazem a gente se sentir mais a gente messs. Nesse momento na minha cozinha tem um pote de massa de tapioca pronta para ser aquecida e transformda em meio para se comer goiabada com queijo, coco, manteiga com queijo ou qualquer outra coisa que caiba lá dentro. Ah, sim, já separei dois pacotes pra levar a bichinha lá pra escuela, pra quando der saudade. Vai entender.

Ah, sim, estou de férias. Aqui no Brésil. Coisa boa, sô. Especialmente pelo teclado em português e pelos acentos que não aparecem rebeldes.



19.5.07

Retrospectiva de Fotos... 4 e ultima

Festa depois...

Festa antes...

Retrospectiva de Fotos... 3

Fazer sonido é assim, ó... rararara
Dificil, né?
Depois de uma manha inteira de chuva, a dire nao conseguia parar de olhar pro céu.


¨O melhor asistente de camara du mundo¨, segunda a fotografa Yane.


Eu bem que tentei, mas nem chegeui aos pés de Pedrim na funcao...

Retrospectiva de Fotos... 2

Olho no lance... O melhor é a careta que eu fazia sem me dar conta enquanto o povo morria de rir
Em contraluz.
Mane e suas estrelas
Momento inolvidável - Mane e Ilka filmando o que seria uma ¨subjetiva de um cachorro¨, criacao de Enmanuel para seu curta terno.

Equipe preparando para tirar mais um plano Joaquiniano.

Retrospectiva de Fotos... 1

Boom para Yanelvis, com Joaco em primeiro plano, fotografando a parada.


¨ Quando eu estou aqui...¨ Yane tentando cantar Roberto Carlos em portugues...


Fábrica do Jooaco pela frente...


Fábrica do Joaco por trás... Quando chegar no Brésil subo o videozim da Fábrica em 16mm...



Fim da Rodagem da Mila, fim do rol de produtora

NOTICIAS, ENFIM


Grupo A com seus 3 hominhos
Grupo A sem seus tres hominhos....


Sentem-se que la vem história

Depois de um longo e nada tenebroso inverno, resolvi dar as caras e ressucitar esse espaco aqui. Demoro. Mas demoro por motivos razoáveis, que podem nao justificar a ausencia prolongada, mas ajudam a entender essa sumida virtual de Angélica Cristina e seus relatos eictvianos.
Buena, sem mais delongas.
Estive fora todo esse tempo por causa dos famosos ¬3 minutos¬, a parte mais importante desse primeiro ano aqui na escola, tanto em termos pedagógicos como de ¬situar-se¬ nesse mundo a parte. Como diz o Dani, outro brazuca que veio para cá comigo (http://www.dtavares.blogspot.com/) estamos falando da cereja do bolo, daquele pedaco que deixamos para o final, e que no caso de nosso calendário chega pouco antes de terminarem as aulas (o que diga-se de passagem, Ž um problema. Mas depois falamos disso).
A coisa funciona da seguinte maneira: dividem-se os 40 alunos em 5 grupos de 8, e assim que cada um de n—s passamos por direcao e roteiro ( ou seja, escrevemos e dirigimos nossa pr—pria hist—ria) alŽm de fazer som direto-mixagem, fotografia, microfone, script-edicao, assistencia de cámara, assistencia de direcao e finalmente producao para cada um dos demais curtas.



Que pasa?
As exigencias do exerc’cio sao que as hist—rias devem ter no máximo 3 minutos, serem contadas em no máximo 20 planos, rodadas em no m‡ximo 2 dias e utilizar exclusivamente luz natural. Filmamos tudo em pelicula 16mm, o que Ž um prazer e um privilŽgio. Trabalhar com a bichinha morrendo de medo e cuidado e depois ver como fica lindo Ž uma das sensacoes mais bacanas que experiementei por aqu’.
No meu caso, o bicho comecou a pegar já na hora de criar o roteiro. Me sentia uma inutil criadora de ¬hist—rias de ficcao¬, cada vez que passava pelas assessorias entrava em crise, enfim.


No final das contas a coisa comecou a andar, fui entendendo o processo criativo e saiu algo que nao me enche de orgulho mas que me satisfaz pela simplicidade honestaÉ rararara.
Entrei numas de que como era ¬minha primeira vez¬ nao ia inventar muita moda para comecar a lidar com a linguagem da ficcao de cinema devagarim, do zero, do beab‡ messssÉ Hoje questiono um pouco essa minha decisao, mas no momento em que ela foi tomada penso que funcionou para algo.
E entonces partimos para a chat’ssima pre-producao cheia de papŽis inuteis, mas tambŽm com partes divertidas como busca de atores, ensaios, criacao de cenografia, vestu‡rio e tudo relacionado a deixar um set pronto para filmar. Dá um trabalho da porra, mas tambŽm ajuda a ver a cara real daquilo que vc criou no papelÉ ƒ do caralho.
Terminada essa etapa, comecamos uma maratona de 23 dias seguidos de filmagens. Como diz’amos por aqu’, um pouco como tiracao mas com um bom fundo de verdade, isso Ž praticamente filmar um longa metragem de baixo orcamentoÉ Nao Ž pouca coisa nao!
Como disse, cada diretor tinha dois dias para filmar seu roteiro e entre uma rodagem e outra havia um dia de intevalo, que aproveit‡vamos para terminar a pre-producao do pr—ximo. A rotina a partir de entao passou a ser acordar por volta das 6h da matina e capotar l‡ pelas 22h quando o trabalho para o dia seguinte nao precisava de tanta coisa. Se era algo mais pesado entonces o jeito era estender a jornada atŽ a hora necess‡ria. Punk rock total.
Acho que, ainda em termos de rotina, a parte mais chata de todas, desse momento, era subir e descer equipamento da sala de aula que era nossa base de operacoes atŽ a o onibus que nos levava para as locacoes. ƒ coisa que nao acaba mais e no final ja est‡vamos todos blasfemando as bolsas de areias, mesas, garrafas tŽrmicas gigantes pra ‡gua cafŽ e suco de mentira, cadeira, tripŽ de tudo quanto Ž jeito, rebotador, aaaaaaaaaaa! NinguŽm merece esse momento ¬ vai e vem¬ de coisas. Craro que chega uma hora que nego acaba acostumando com a coisa, mas definitivamente essa Ž uma das partes do processo das quais eu nao vou sentir falta nenhuma, rararararara!



Producao
E entonces comecaram as rodagens. E eu comecei como produtora, tambŽm conhecida como a ¬patinha feia¬ do cinema. O bom Ž que depois de passar por isso qualquer um acaba reconhecendo que sem uma boa producao nao existe cinema, j‡ que a profissao tem, entre suas funcoes fundamentais, a de garantir que seja poss’vel filmar Ð ou seja, ENCONTRAR DINHEIRO, rararararara!
No caso dos Tres Minutos, o que a gente fez em termos burcr‡ticos era mais para constar, porque afinal de contas a escola Ž quem banca tudo. E ai o trabaho mesmo acaba sendo pre-producao e producao de set, o que significa cuidar desde os detalhes dos objetos que os personagens vao necessitar, criacao e decoracao das locacoes, blablabla, mas tambŽm garantir o cafŽzinho e o sandu’che da equipe para neguinho nao morrer de fome nem estressar, ‡gua para neguinho hidratar, protetor solar para os momentos de filmagem a cŽu aberto, filtros X Y e Z que o fot—grafo vai necessitar, andaime para as tomadas mais ¬inspiradas¬ de diretores doidos, enfimÉ um trabalho bracal do cacete que te permite olhar e conhecer as necessidades de cada funcao e por isso mesmo me pareceu tao bacana.
Se a hist—ria tem uma vaca que faz muuuuu e come capim em determinados planos, toca produtor a ir atr‡s da vaca e garantir que ela esteja no set a tal hora, em um luar seguro e com alguem para cuidar da bicha, que afinal como vcs podem imaginar, nao est‡ exatamente acostumada a passar um dia inteiro esperando a boa vontade do diretor, muito menos a responder ao que o cara pede. Felizmente nao tive que ir atr‡s de vaca nenhuma, mas presenciei o esforco de um amigo para conseguir uma e foi a coisa mais tragi-c—mica do mundoÉ Gosto desse exemplo como ilustracao do trabalho do produtor, rararararara.
A hist—ria que produzi no geral foi tranquila. A diretora era a Mila, de document‡rio, e a hist—ria se chama ¬Ambar¬. Em uma linha, trata-se de uma mulher que tem modos masculinos e passa por um processo de aceitacao de si mesmaÉ. Imginem que isso cabe em 3 minutos, rarararara.
De locacoes, tive que criar uma cafeteria Ð ou seja escolher um espaco, pensar cores, pintar paredes, conseguir mesas e cadeiras, decorar bonitim, etc - e um quarto muito simples. As demais eram espacos que ja existiam por aqu’. O vestu‡rio tambŽm nao teve nenhum segredo, enfim, e o que acabou me demandando mais foi fotografia que precisava armar um palio Ð nao sei qual Ž o nome disso ai no BrŽsil, mas Ž uma espŽcie de tela gigante que se usa em exteriores para baixar a luz a um nivel que nao estoure a pel’cula. ƒ a coisa mais chata e pesada de transportar e para armar precisa de 15 pessoas de uma vezÉ ararararararararaÉ Ok, mentira. Mas de uns 4 pelo menos precisa. Fora que Ž o unico da escola, entao se tinha mais de um neguinho precisando da bagaca, era ir cordenar com o outro produtor para entrar num acordo de que horas quem ia ter o queÉ
Anfan, Ž meio estressante, Ž correria para l‡ e para c‡, nego nao para um segundo, mas o fato Ž que encontrei algo de maternal na funcao, essa coisa de ter de olhar para todos e cuidar de todos e ai acabei curtindo mais a experiencia.




Direcao
A segunda rodagem teve como diretora a n’vel de pessoa que dirige sua hist—ria enquanto roteirista eu mesma. Sim, euzinha, Joaquina Cristina, dirigindo um curta, vejam bem, meus bens. O nome do meu curta Ž ¬Acontece¬ e fala sobre pequenas frustracoes da vida de um moco. Como meus atores sao brasileiros, filmei o curta em portugues. Bueno, e acreditem ou nao foi tudo super tranquilo. Acho que estressei mais e tive mais trabalho com producao e ai quando chegou a hora de dirigir tudo pareceu tao sussaÉ rarararara. Tb conta o fato de que meus atores estavam super bem atuando como eles mesmos Ð eles sao um casal e atuaram como um casal, rarararara - o que sem dœvida aliviou muito meu trabalho. E acho que o que conta mais ainda Ž que como estou aqu’ para fazer document‡rios, nao tenho que provar nada para ninguŽm com minhas ficcoes. Depois conversando com a Manu, que tb Ž de documental, chegamos a conclusao de que isso nos tira um peso grande das costas, ou seja, o fato de que em teoria nao vamos mais trabalhar com ficcao. Digo isso porque entre os alunos da minha sala, que tem ai um bom contingente de pissoas talentosas, o clima de competicao nao chega a ser insalubre, mas, sim, est‡ presente, e ai a cobranca pessoal de cada um acaba subindo. No caso especifico dos documentaristas somos um peque–o grupo de apenas 5 pissoas e nos respeitamos muito entre n—s, entonces nao tem muito galho nesse sentido.
Nas fotos vcs vao ver a casa que armamos para o meu casal protag—nico. Qualquer semelhanca com as casas de AngŽlica Maria Ž mera coincidenciaÉ rarararaÉ
E nada, foi tao tranquilo que nem sei o que dizer. Filmamos tudo em tempo, nao tivemos nenhum imprevisto, nao choveu, meus atores se sairam muito bem, meus atores ni–os se sairiam muito mal mas sem comprometer a pelicula, lero lero, nada demais. Ao contr‡rio do que eu mesma imaginava, nao virei uma ditadora, ouvia todo mundo com calma, tudo na pax, fluindo super bem.



Microfone
Depois de ser diretora, chegou a vez de Yanelvis, de fotografia, dirigir seu curta ¬X-Distantes¬, uma hist—ria super linda sobre a campanha de alfabetizacao de Cuba p—s-revolucao nos anos 60. Nesse momento, virei microfonista - ou seja, boom. Sabem esses microfones de filmagens que parecem um cachorro peludo cravado numa vara? Entonces, esse Ž o boom. E o microfonista tem que meter o boom na galera, rarararararaÉ Acho que entre todas, essa Ž a funcao mais sussa, o que nao significa que seja tao simples. Na hora de di‡logo, de seguir passos e tal, neguinho tem que se virar com aquela bagaca na mao sem fazer ruido e garantindo que o eixo do microfone esta bem dirigido para captar tudo muto bemÉ De isso depende boa parte da qualidade do som direto de uma pel’cula. Mas para falar a bem da verdade, oh coisa chata de fazer, visse? Puta que o pariu, ninguŽm merece sair de producao e direcao e de repente entrar em micr—fono, rararara.
Para nao morrer de tŽdio, eu passava o tempo cantando no microfone mœsicas do Roberto Carlos pro Pedrinho, um fan‡tico do Rei e a pessoa respons‡vel por monitorar a captura de som dessa rodagem. Ele era quem passava o tempo com a Nagra, que Ž o aparelho de gravar som, e com um fone de ouvido escutava tudo que meu microfone mandava. O mais engracado Ž que esses microfones sao tao potentes que vc pode sussurar mega baixinho, sem que ninguŽm te ouca, e mesmo assim quem t‡ com o fone escuta. Nessas, depois de cansar de cantar, comecava a fazer coment‡rios estupidos sobre as coisas que estavam acontecendo, bobagens e tonterias afins. E assim foi como consegui fazer dessa funcao algo divertido, rararararararaÉ Nao Ž a toa que o povo que trabalha com som em cinema Ž conhecido como a galera sussa, buena onda, relax, etcÉ Reparem nas fotos a atitude dos que passaram por sonido e vcs vao entender do que eu tou falando.
Essa foi a primeira rodagem em que apareceu um problema grande Ð chuva! Como estavamos trabalhando com luz natural, se chovia ou estava tempo nublado o jeito era simplesmente sentar e esperar atŽ que a luz estivesse melhor e fosse possivel filmar. O primeiro dia de rodagem choveu a manha inteira, o que significa 25 % do tempo total que tinhamos para terminar o trabalho. Nessas a diretora ja tava maluca, mordendo dedos e comendo unha com medo de nao conseguir filmar. Mas como Žramos ¬o grupo tranquilo¬ tentamos deix‡-la tranquila de que ir’amos resolver o trabalho de qualquer maneira, todos mantivemos a calma e aos poucos ela tb foi acalmando. Por fim, ja no mesmo dia pela tarde o tempo melhorou e conseguimos adiantar bastante coisa. No dia seguinte tb tivemos sol e acabamos terminando tudo antes do almoco. No total foi como se tivessemos gravado o curta em um dia, e olha que era um trampo de fotografia fodido, todo um neg—cio com as luzes e tal. Nesse momento sacamos que a integracao do grupo realmente tava muito boa.



Assistente de c‡mara
Minha quarta funcao foi assistencia de c‡mara, que parece uma bobagem quando a gente le nos crŽditos dos filmes, mas que para mim foi outra das experiencias mais ricas. O assistente de camara Ž o cara que se responsabiliza pela mocoila, que move ela para la e para c‡ a cada troca de plano a ser filmado, que mede o foco, que segura a camara para o fot—grafo quando rola ¬camara em mao¬, que coloca o diafragma de trabalho, que troca lente, que limpa lente e ventanilha a cada troca de lente, que carrega a pelicula no magazine Ð a parte mais ¬emocionante¬. Enfim Ž o guardiao da camara e nao p‡ra um minuto de trabalhar. Se rola uma pausa de 5 minutos para a equipe, ele tem que ficar sentadinho do lado da c‡mara para garantir que ela nao caia no chao e se espatife por uma eventual falha no tripŽ. O bacana dessa hist—ria Ž que nessas neguinho se familiariza com tudo que se relaciona a fotografia e j‡ chega melhor praparado para assumir a funcao de direcao de fotografia. Eu adorei ser ¬assistonta¬ e tive a sorte de ter um diretor de foto muito sussa e com quem trabalhei super bem, que foi o Enmanuel. A direcao era da Ilka, de edicao, e o curta se chama ¬Ayer¬ que quer dizer ¬ontem¬ em espanhol. A hist—ria Ž sobre uma mulher que viu seus pais serem assassinados e carrega esse trauma pro resto da vida. ƒ a œnica hist—ria sangrenta do nosso grupo, rararara.. Foi uma filagem tambŽm muito tranquila, que terminamos super r‡pido porque eram poucos atores e apenas uma locacao enfim, nenhuma grande emocao. Isso porque atŽ aqui ainda nao sab’amos o que viria pela frente.



Assistente de direcao
Fui assistente de direcao do Joaquin, que Ž de roteiro, algo que foi —timo porque somos muito amigos, nos entendemos super bem, etc, e isso Ž fundamental para esse trampo. Mas ao mesmo tempo tive a ¬sorte¬ de ter de cuidar da rodagem mais punk que tivemos. Bueno, o assistente de direcao Ž o cara que cuida do set. Ele Ž a ponte entre todos os membros da equipe e o diretor e Ž quem garante que se filmem todos os planos previstos para cada dia. ƒ o cara que nos filmes sobre cinema aparece dando ordem em todo mundo, gritando por megafone, etc etc. Ah, ele tambŽm tem que cuidar dos atores.
O trampo mesmo comeca antes da rodagem Ð ele tem que sentar do lado do diretor e tirar dele absolutamente tudo que ele pensa sobre a pelicula, cada detalhe de personagem, de locacao, de decoracao, efeitos especiais, de ator, de tudo. E ai o proximo passo Ž fazer com que o produtor consiga cada coisinha. Se a coisa entre diretor, produtor e assistente nao rola bem feita, na hora da rodagem o bicho pega e vira um caos.
Que mais? Bueno, cada problema que aparece nego vai e fala com o assistente e ele tem que resolver. E tem que pressionar a equipe de foto para que montem os planos no tempo previsto, tem que organizar entrada e sa’da de extra, etc etc etc. ƒ um trampo do cacete, mas a Ž bacana. Pelo menos para gente que era ¬o grupo tranquilo¬ ninguŽm chegou a ter estresse ao desempenhar a funcao, como aconteceu com algumas pessoas.
Acontece que o curta do Joaquin calhou de ser o que teve mais problemas ¬fora do nosso alcance¬ e ao mesmo tempo: no primeiro dia de rodagem choveu o dia inteiro e acabou a luz, e no segundo dia a c‡mara teve um problema e travou. AlŽm disso, a hist—ria era a ¬superproducao¬do grupo. Chama-se ¬Bombillos¬, que quer dizer ¬lampadas¬e trata-se de um homem com cabeca de lamapada que trabalha numa f‡brica de lampadas e que um dia se apaga e Ž expulso do trabalho. Pois Ž, simples assim, rarararara.
O legal Ž que a estŽtica era toda tipo desenho animado, entao construimos uma f‡brica de mentira com papel machŽ e fizemos o vestu‡rio dos atores com papelao. S— nessa foram dias e dias de trabalho, que com certeza valeu muito a pena. Ficou do cacete a bagaca.



Para se ter uma idŽia, na hora de filmar, AngŽlica Cristina alŽm de cuidar de tudo ainda tinha que coordenar a galera que manipulava as pecas da f‡brica, e era a coisa mais doida do mundo.
Como tivemos muitos problemas, esse foi o momento em que todos do grupo ajudaram em tudo. Desencanamos das formalidades de que cada um deve se meter na sua funcao e entramos todos para garantir que a coisa sa’sse. Foi uma doidera. Trampamos que nem loucos. Foi a œnica rodagem em que usamos o dia de intervalo para filmar, afinal tivemos quase um dia inteiro parados por causa dos problemas que apareceram. Mas saiu e saiu muito bonito.
Outra parte boa da hist—ria Ž que o ator principal era um menino lindo de 8 anos, o Sergito, e como eu tinha como funcao cuidar dele tambŽm, aproveitei para matar a saudade de ser tia e madrinha e curti o muchacho para caramba. Acabamos virando amigos, foi super bonito. No œltimo dia de rodagem eu tava atŽ borococho porque ele ia embora e j‡ tou planejando uma visitinha para matar saudade, rarararara.



Som
ƒ doido porque aqu’ na Escuela a c‡tedra de Sonido Ž a mais famosa e a mais importante, mas o fato Ž que nas rodagens dos 3 minutos todo mundo que fez som morreu de tŽdio, rarararararaÉ Nada, a parte de som Ž mega importante e nao tem a ver s— com trilha sonora. Tem a ver com absolutamente tudo que se escuta em um filme. Se nego nao tem uma boa captacao do ¬som direto¬vai ter trabalho mais que dobrado na hora da p—s-producao. Acontece que na pr‡tica neguinho nao d‡ bola e simplesmente liga a Nagra e grava o que ta ouvindo e pronto. No meu caso foi assim e sei que no de quase todos do noso grupo tambŽm. Agora chegamos em pos producao de som, entendemos que a coisa nao Ž tao simples como parece e neguinho ta virando madrugada na sala de mixagem para arrumar trabalho mal feitoÉ Hoje mesmo estou mixando o meu e amanha entro para mixar o do Enmanuel, de quem fiz a captacao.
Ele tb est‡ em roteiro e seu curta se chama ¬Ultimo¬, sobre um menino que foge de fazer a tarefa e enfrenta obst‡culos tremendos apenas para chegar ao encontro marcado com sua amada. ƒ todo lindoÉ hihihi. Essa tambŽm foi uma das rodagens sussas no geral e para mim mais ainda j‡ que eu tava na funcao vaga do momento.



Scripiti girl e edicao
Aqu’ eles chamam de script, mas ai no BrŽsil essa funcao Ž mais conhecida como continuista. No nosso caso quem fazia script era quem depois ia editar a bagaca. E a mim me tocou editar para um editorÉ hehehehe. Pedrim Ž o diretor do curta ¬81¬, inspirado em um conto da Clarice Lispector sobre uma senhora de 81 anos que sofre porque ainda tem ¬desejos sexuais¬. Como vcs podem notar, cada hist—ria Ž uma coisa completamente diferente da outra e isso Ž parte da ¬aura¬ dos tres minutos e do que faz dessa experiencia uma coisa doida de boa.
Meu papel nesse momento era acompanhar cada acao e cada detalhe dos espacos em que estavamos filmando para garantir que na hora da edicao tudo teria continuidade. Por exemplo, se o ator olhou para o lado esquerdo da c‡mara e no plano seguinte vemos a pessoa para quem ele est‡ olhando, Ž o script que tem que assegurar que o diretor nao vai esquecer de posicionar o cara do jeito certo. Mas durante os tres minutos acho que a funcao mais importante do script Ž cuidar da metragem de pel’cula. Isso Ž fundamental porque cada um de n—s recebe uma cota de pel’cula e tem que trabalhar com ela. Se acabar, acabou. Nessas, o script tem que avisar ao diretor se ele pode repetir determinadas tomadas ou se j‡ gastou muita pelicula e entao Ž melhor ensaiar bastante atŽ conseguir chegar no que ele quer e tentar fazer a coisa em tomada œnica. Digamos que a pr‡tica tem muito a ver com o conceito de ¬cine pobre¬, rarararaÉ
Para mim enquanto pessoa no n’vel do meu eu, script entra na leva das funcoes mais sussas e isso explica porque dificilmente alguŽm comenta ¬oh, que bom trabalho de script¬, rarararara.
A rodagem do Pedrim s— nao foi das mais tranquilas porque ele mesmo tem um jeito mais durao de ser. Na hora de tomar decisoes ou ter de mudar coisa rola uma cara feia e tal, mas nada que comprometesse o crima bao do grupo.
De todos maneiras o bicho acabou pegando na hora da edicao. Depois que armei o primeiro corte, o nego nao saiu mais da sala de edicao e ai eu me senti mais uma operadora de final cut do que uma editora. Entre indas e vindas, cortes e cortes chegamos a um corte final que obviamente Ž a cara do diretor, afinal Ž sua pelicula, mas que teve suas contribuicoes da editora tambŽm, hehehehehe.



E finalmente fotografia
Chegamos a conclusao que entre absolutamente TODOS do primeiro ano a funcao que dava mais medinho pela responsa que representa Ž fotografia. Expor bem uma pel’cula t‡ longe de ser a coisa mais simples do mundo e a gente j‡ sabia que a bagaca nao era facil pelo que aprendemos antes dos 3 minutos. Mas a bem da verdade Ž que para mim pelo menos foi a melhor. A mais emocionante. Estamos falando da big responsa de pensar a exposicao de luz, pensar na cara que vai ter a hist—ria, enquandre, cor, movimento de camara, alŽm Ž claro da operacao de c‡mara propriamente dita. Calhei de fazer foto para Manu, que tambŽm Ž de documental e com quem me entendo super bem. A hist—ria dela tem um pŽzao em Almod—var Ð Ž uma muchacha que se apaixona por um travesti. A producao ficou show de bola, armamos um cabarŽ gay e tivemos que falsear luz de noite trabalhando com luz natural. Estamos falando da minha primeira vez rabalhando com uma c‡mara de 16mm, que teve direito atŽ a dois planos de c‡mara em maoÉ ui! Rarararararara.
Essa foi a ultima rodagem e uma das mais divetidas porque era a coisa mais engracada ver aos atores Ð nossos companheiros de classe Ð vestidos de traveco, e de repente todo mundo encarnava a bicha louca, enfimÉ O curta nesse momento est‡ em mezcla e ficou beeeeem bonito.
De tudo um pouco
Terminadas as rodagens, chegamos ao momento conhecido internacionalemnte como¬depressao p—s tres minutos¬. Explico: nego sai de uma rotina doida de trampar que nem camelo direto para duas semanas seguidas sem ter absolutamente nada para fazer. Isso porque, por mais que a escola seja bem equipada, nao temos aqu’ 40 salas de edicao e sonido para que cada um ja comece a cuidar da sua pos producao ao mesmo tempo, sem contar o resto da galera dos outros anos que tambŽm estao com suas tesis e pre-tesis.
Ou seja, o jeito Ž arrumar coisas para fazer e nao enlouquecer atŽ que chegue sua data de edicao e som.
No meu caso, acabei me metendo nas rodagens dos dois grupos que comecaram a gravar depois dos tres primeiros e ai fiz de assistencia de producao a iluminacao e direcao de arte, fora algumas atuacoezinhas b‡sicas como extra e figurante, incluindo como morta em um acidente de onibus, verdadeira tragedia que pode ser conferida no blog do Dani, cujo endereco ja ta por ai nesse mega post.
TambŽm calhou tempo livre para aproveitar a piscina, ler um pouquim, voltar a ver peliculas e atŽ escapar a Havana para acompahar o desfile de Primeiro de Maio, a data mais importante daqui. Literalmente centenas de milhares de pessoas desfilam na praca da revlucao para reivindicar suas causas de demonstrar seu apoio ao comandante en jefe.



Pos production
E ai chega a p—s producao. Nao vou negar que achei toda a etapa chata demais, afe maria. Agora que Ž das mais importantes e de fato Ž onde nascem as peliculas, tambŽm nao h‡ como negar. Nesse sentido, terminar tudo e olhar o trabalho finalizado Ž tambŽm a coisa mais linda. Definitivamente Ž s— depois de terminadas edicao e mixagem que a gente sabe de verdade de que se tratam os trabalhos e o que cada um conseguiu dizer. TambŽm Ž nesse momento que fica claro que sonido pode ser muito sussa durante as rodagens mas demada um puta trabalho em p—s e Ž um elemento que pode mudar absolutamente tudo em uma hist—ria.
Logo que terminaram as rodagens, os negativos iam chegando aos poucos e viamos a projecao do material simplesmente revelado. Era toda uma emocao, mas as vezes podia ser decepcionante tambŽm, porque alguma coisa tava super-exposta ou porque simplesmente nao era possivel ver uma hist—ria clara ali. Craro que nao! Sem edicao e sem tratamento de sonido, nao existe cine. Agora, que ninguŽm merece ficar enfurnado em uma sala com ar condiconado por seis dias seguidos, trampando atŽ madruga, isso Ž fatoÉ Admiro editores e sonidistas cada dia maisÉ Que bom que eles existem porque eu dificilmente encararia essa parada por muito tempo. No caso de edicao, nao tenho como fugir Ð e nem quero - porque estou em document‡rio. E atŽ gosto da coisa, de brincar de montar um monte de hist—rias diferentes com o mesmo material, essas coisas doidas que ensinam muito de linguagem de cine.

E no mais
Bueno, das coisas mais importantes que significaram os 3 minutos, uma delas foi me dar conta de quem vim para essa Escuela para trabalhar com algo que me mobiliza e em que eu acredito. Caraca, isso Ž um privilŽgio enorme. Lembro de que em algum momento eu tava saindo para almocar durante a rodagem da Ilka e do nada me sentia tao feliz, mas tao feliz e nao conseguia entender porque. Por que ser‡?
Porque tava trampando com pessoas bacanas, em projetos que tem o pedaco de cada um ali, vivendo parte de um aprendizado que t‡ s— comecando e que j‡ Ž super impotante. Cada funcao, cada rodagem, cada dia era uma coisa nova e muito bom estar ali trampando e dividindo com esse grupo que formamos.
Agora, que d—i, d—i. D—i bastante estar longe tanto tempo de todos e de tudo e ainda ter que comecar do zero em um lugar desconhecido, onde as pessoas falam uma lingua que nao Ž a sua, em uma bolha doida como Ž essa escola, naquele que Ž tido como o œltimo pa’s socialista do mundo. Mas vale muito a pena. Demais da conta. E a verdade Ž que a dor vai diminuindo conforme o tempo passa. As coisas que vamos construindo aqu’ passam a ter um valor importante e a fazer parte da gente de verdade, o que ajuda e muito a superar as saudades todas essas. J‡ comeco a admitir com mais sinceridade que essa Ž minha casa pelos pr—ximos dois anos e meio.


Enfim, enfim, tudo isso sao os 3 minutos.
Deu para entender mais ou menos porque sumi? Rararararara

8.2.07

FOTAS DE FOTO 3

O que que a gente nao faz pelo cinema? Joaco em acao.
Chegaaaaa! Gravando das 9h as 23h...
Joanne encenando para moá. Bela fotografia, nao? Rararararara.
Ok, profe, ok, ja entendi...

Joanne sendo monitorada pelos... monitores!

FOTAS DE FOTO 2

Brasilenhas
Assitencia pra Jana
A camino de la locación
Grabando en locación

FOTAS DE FOTO 1



Na fota, cama en mano, que é pra dar mais emocao. Ah, sim, e o profe observa tudo, craro.

segue sequencia de fotenhas das oficinas de fotografia que tivemos durante as duas ultimas semanas. Vale comentar que, apesar de nao ter o registro fotográfico do fato, tive o prazer de manusear uma das camara de 35mm que pertenceu aquele diretor japones famoso, como é mesmo o nome dele? Ah, sim, ¨Nao-sei-que Kurosawa¨. Testemunhas confirmam. No caso destas fotos, é apenas uma Sony DV. Tá valendo.